Nota: este artigo é o terceiro de uma série de quatro artigos sobre Abuso. Para mais, veja a Parte 1, Parte 2 e Parte 3.
Uma das razões pelas quais acredito que o aconselhamento bíblico pode ser uma resposta eficaz ao abuso doméstico é nossa ênfase no princípio bíblico de despojar e renovar. Se um homem que fez escolhas abusivas afirma ser crente, então é exigido de nós, que estamos dentro da igreja, chamá-lo ao arrependimento, responsabilizando-o por abandonar completamente a maldade do abuso e abraçar um novo e melhor caminho. Simplificando, quando estamos nos esforçando para promover mudanças, devemos não apenas chamar o aconselhado a cessar o comportamento destrutivo, mas também a substituí-lo por um comportamento que honre a Deus. O resultado final dessa confrontação deve produzir evidências (frutos) de arrependimento, ou confirmar sua descrença e a necessidade de consequências contínuas.
Digamos que temos um homem que grita constantemente com sua esposa e, à medida que o questionamos, descobrimos práticas adicionais de intimidação, como linguagem corporal, bater com o punho na mesa e gestos ameaçadores, como cerrar o punho. Estabelecemos que ele deseja tanto que sua esposa se conforme (ceda), que está disposto a assustá-la para isso. Seu orgulho o levou a valorizar o que quer acima do tratamento adequado à sua esposa. Certamente, queremos que ele remova esse comportamento intimidador, mas o que podemos pedir que ele faça para a glória de Deus? O que estamos procurando para evidenciar os novos padrões de arrependimento? Percebemos a necessidade de confrontá-lo com passagens como Efésios 5.25–33 para abordar sua falta de amor semelhante ao de Cristo, e Colossenses 3.19 para lidar com o tratamento duro em relação a sua esposa. Em vez de causar medo em sua esposa a fim de controlá-la, chamamos o homem intimidador a amar sua esposa de tal maneira que ela não apenas não tenha mais medo, mas a faça segura e sã.
“No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor” (1 João 4.18).
Passagens das Escrituras como esta nos lembram que o amor se opõe ao medo e, em vez disso, busca o bem-estar do outro, e o faz com paciência e bondade, não com intimidação e medo. Como tal, devemos esperar que o homem que era intimidador agora seja intencional no que diz respeito a expressar amor e prover segurança.
Observação: isso leva tempo.
Não estou sugerindo que um único artigo de blog, sessão de aconselhamento ou confrontação irá produzir, de repente, um amor semelhante ao de Cristo. Mudar da intimidação para o amor semelhante ao de Cristo exigirá trabalho árduo, responsabilidade consistente de longo prazo e metas concretas projetadas para medir o crescimento.
Mais especificamente, podemos destacar o comportamento de um homem abusivo, contrastar isso com as Escrituras e, em meio ao processo, desenhar alternativas bíblicas e chamá-lo a praticá-las. Embora haja múltiplas passagens que possamos fazer referência, aqui estão alguns exemplos presentes no meu livro, The Heart of Domestic Abuse.
Da Violência à Gentileza
Podemos incentivar os homens que usaram de violência a praticarem uma variedade de alternativas que honram a Deus, mas uma área a ser destacada é a gentileza. Tenho encontrado muitos homens que se encolhem com a ideia de se envolver em respostas gentis a circunstâncias desafiadoras, e ainda assim, esse encorajamento é oferecido consistentemente na Escritura como uma alternativa à violência.
No que se refere a seguir Jesus: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma” (Mateus 11.29).
Como resultado da obra do Espírito: "Mas o fruto do Espírito é... mansidão" (Gálatas 5.22–23).
Como requisito para a liderança: “... não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento” (1 Timóteo 3.3); “… não difamem a ninguém; nem sejam altercadores, mas cordatos, dando provas de toda cortesia, para com todos os homens” (Tito 3.2).
Do ridículo ao incentivo
Palavras são poderosas, e o veneno do abuso verbal penetra o espírito de sua vítima. Esse comportamento não é consistente com a pessoa de Cristo, ou com o tipo de pessoa que Ele nos chamou a ser. A Escritura nos admoesta a falar palavras de verdade e vida àqueles com quem nos comunicamos.
Como forma de edificar os outros: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem. E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção” (Efésios 4.29–30).
Como evidência de santidade: “Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o contamina” (Mateus 15.18–20).
Como forma de praticar a sabedoria: “Portai-vos com sabedoria para com os que são de fora; aproveitai as oportunidades. A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um” (Colossenses 4.5–6).
Da minimização, negação e culpa à verdade
A verdade e a disposição de falar honestamente são componentes essenciais da vida cristã. O engano e o comportamento ardiloso são ferramentas valiosas para o homem abusivo que sempre engana a si mesmo, mente para a esposa e tenta ludibriar a todos. Ele é um mestre da manipulação, e isso deve parar para dar lugar à verdade.
Como forma de responsabilidade: “Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4.15).
Como meio de santificação: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (João 17.17).
Por uma questão de obediência: “Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros” (Efésios 4.25).
Já foi dito que o maior indicador de comportamento futuro é o comportamento passado. Mudar é difícil, alguns diriam impossível, a menos que usemos o poder e a presença do Espírito Santo. Sem intervenção, é raro ver o tipo de mudança significativa de coração, desejo e comportamento que estamos exigindo. É ainda mais imperativo que nós, como líderes e ajudantes de pessoas, nos engajemos em um ministério de confrontação que responsabiliza os homens abusivos e os chama ao arrependimento.
Questões para reflexão
Você e sua igreja estão equipados para se envolver no ministério de confrontação? Você já considerou educação continuada na área de intervenção e prevenção de violência doméstica?
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Este post, de autoria de Chris Moles, foi originalmente publicado no blog da Biblical Counseling Coalition. Traduzido por Gustavo Santos e revisado por Lucas Sabatier. Republicado mediante autorização.
*Os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos aqui publicados são de inteira responsabilidade dos autores originais, não refletindo, necessariamente, a opinião da direção e membros da ABCB em sua totalidade.
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