Por Alex Mello*
A família tem sofrido muito com o moderno estilo de vida adotado pela sociedade contemporânea. A presente geração de pais cresceu num vácuo de autoridade, resultado da filosofia de vida dos nascidos no pós-guerra que criaram seus filhos com pouca ou nenhuma disciplina, resultando em pais que não sabem ou não querem exercer autoridade o lar.
O problema é que a sociedade de um modo geral já rejeitou os valores bíblicos necessários a família. Segundo John MacArthur uma criança assiste em média trinta horas de TV por semana e antes que conclua o ensino médio terá sido submetido a vinte mil horas de programação que em sua maioria pregam valores contrários a Palavra de Deus. 1
Paul Tripp afirma que muitas pessoas têm filhos mas não querem agir como pais, muitos preferem ser amigos de seus filhos e se colocam em condição de igualdade com eles. Além disso, nossa cultura tem convencido a muitos que ter filhos é uma desvantagem competitiva na sua busca de auto realização. 2
Nesse contexto muitos pais não têm lidado biblicamente com os problemas enfrentados por seus filhos. As escolas e, em alguns casos, as igrejas locais não têm cooperado com os pais na tarefa de “ensinar o menino no caminho que deve andar” (Pv 22.6). Tornou-se comum encontrar pais desorientados recorrendo a profissionais que algumas vezes não têm compromisso com Cristo e outras vezes não têm uma visão bíblica do problema.
Olhando para este cenário surgem as perguntas:
As Escrituras são suficientes para solucionar os problemas infantis?
Em um tempo em que o modelo de criação de filhos é fortemente influenciado pela psicologia, podemos recorrer exclusivamente a Palavra de Deus para nos direcionar na criação de nossos filhos?
Como devem ser tratados biblicamente os problemas das crianças?
Uma vez que a psicologia, a psicanálise e a psicoterapia têm se tornado cada vez mais populares, é comum ver termos destas áreas sendo usados por pais, educadores e até crianças para descrever os comportamentos problemáticos dos últimos. Qual a terminologia bíblica para os principais problemas infantis? E quais os mandamentos bíblicos relativos a cada comportamento observável?
As crianças têm características diferentes dos adolescentes, jovens e adultos, assim sendo, quais as peculiaridades na prática do aconselhamento de crianças devem ser adotadas a fim de ajudá-las a vencerem biblicamente seus problemas? Quanto tempo deve durar uma sessão de aconselhamento em que uma crianças esteja presente? Os pais devem participar de todas as sessões? O "set" de aconselhamento precisa sofrer alguma adaptação para receber as crianças? Qual linguagem deve ser usada durante a sessão?
Qual o papel dos pais no aconselhamento bíblico de crianças? Supondo que o conselheiro bíblico realmente seja útil no auxílio a crianças que passam por dificuldades, até que ponto este ministério deve ser exercido sem interferir na responsabilidade bíblica dos pais. O mandamento bíblico de instrução e disciplina dos filhos foi dado exclusivamente aos pais, assim sendo qual a responsabilidade destes no processo de aconselhamento?
Como conselheiro bíblico creio que a Bíblia tem a resposta para todos os problemas do ser humano, inclusive das crianças de menor idade. E que a verdade Bíblica deve ser apresentada de forma concreta e relevante às crianças, com uma aplicação direta aos problemas delas.
Assim, defendo que os princípios de aconselhamento bíblico podem ser aplicados perfeitamente às crianças, necessitando apenas que alguns pequenos fatores sejam especificados.
Como conselheiros temos ainda que auxiliar, partindo da Palavra de Deus, pais que precisam aprender a instruir e tratar biblicamente as diversas situações-problemas na vida de seus filhos, visando atingir-lhes o coração.
Embora o modelo atual de criação de filhos seja fortemente influenciado pela psicologia, as situações problemas apresentadas pelas crianças podem e devem ser encaradas a luz da Palavra de Deus. Assim, como crentes que acreditam na Bíblia como Palavra de Deus, devemos recorrer exclusivamente a ela para nos direcionar no trato destes óbices.
Os problemas das crianças têm a mesma raiz pecaminosa que os problemas dos adultos, diferindo destes apenas na sua forma de apresentação e de realização. As crianças como pecadoras têm desafios próprios e os problemas enfrentados por elas se manifestam mais em forma de ira, medo, bullying, desobediência e inquietação.
É preciso que o conselheiro bíblico adote uma metodologia própria para aplicação prática dos princípios bíblicos para crianças.
Os modernos termos psicologizados utilizados pelos pais, precisam ser gradativamente substituídos por termos bíblicos, por exemplo, as crianças que chegam para aconselhamento com um diagnóstico de hiperatividade e déficit de atenção, na verdade precisam aprender o domínio próprio. O pecado e não a baixa autoestima é o problema básico das crianças. As chamadas fobias, são na verdade a manifestação do medo que desconfia do amor de Deus e da sua soberania.
Uma mudança na linguagem do aconselhamento é fundamental para a eficácia, uma vez que a criança necessita entender a Palavra de Deus. O uso de técnicas variadas de ensino como, contação de histórias, desenho e outras possibilitarão uma maior transmissão de conteúdo, levando a uma maior eficiência no processo de aconselhamento. Neste ponto conselheiros bíblicos têm muito a aprender com professores da Escola Dominical.
A sessão de aconselhamento bíblico para uma criança precisa ser mais curta, com 30 ou 40 minutos no máximo. Também é importante o trato inicial com os pais e a introdução da criança no processo de aconselhamento deve ocorrer apenas depois de duas ou três sessões, sendo que talvez isto nem seja necessário. Na maioria dos casos, basta que os pais sejam aconselhados para que os problemas dos filhos sejam resolvidos.
Os conselheiros devem ainda buscar um local de aconselhamento apropriado as crianças, talvez com alguns temas infantis ou mobília mais adequada a criança, facilitando assim a aproximação com a mesma.
Por fim ressalto a necessidade extrema de participação dos pais, estes nunca devem ser excluídos do processo de aconselhamento, pois como já disse, na maioria dos casos, serão eles os aconselhados. Os pais proverão as informações preliminares ao conselheiro, e em alguns casos o problema estará nos pais e não nas crianças. Em um segundo momento, caso a criança realmente apresente dificuldades em agradar a Deus, os pais acompanharão as sessões como treinandos para eles próprios tornarem-se conselheiros de seus filhos.
O mandamento bíblico de instrução e disciplina dos filhos foi dado exclusivamente aos pais, assim sendo os conselheiros poderão ajudá-los, mas nunca substituí-los.
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1. MACARTHUR, John. Como educar seus filhos segundo a bíblia. São Paulo: Ed. Mundo Cristão, 2001. p.106
2. TRIPP, Tedd. Pastoreando o coração da criança. São José dos Campos: Fiel, 1998, p.5
* Alex Mello é membro da ABCB (Associação Brasileira de Conselheiros Bíblicos) e Mestre em Ministérios Familiares pelo SBPV (Seminário Bíblico Palavra da Vida). Serve como pastor auxiliar na Igreja Batista da Fé em São José dos Campos.
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