Cardiologistas habilidosos fazem distinções muito precisas ao diagnosticar e distinguir um possível de problema no coração. Conselheiros habilidosos, como médicos da alma, devem fazer o mesmo. Vamos considerar três distinções bíblicas acerca da culpa.
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Distinção #1 – Culpa relacionada a pecados intencionais e a pecados sem intenção
Embora todo pecado seja pecado, todo pecado incorra em culpa, e toda culpa necessite do perdão de Deus, a Bíblia faz distinção entre pecados intencionais e sem intenção (Levítico 4; Números 15).
Allison, uma mulher cristã, escolheu se casar com um homem incrédulo. Ela sabia que a Palavra de Deus proíbe cristãos de se casarem com incrédulos (1 Coríntios 7.39; 2 Coríntios 6.14). Mas ela se casou com ele mesmo assim, apesar das objeções de sua consciência, de seu pastor e de seus amigos cristãos. Ela se sentiu culpada, naquele momento, e continuou a se sentir assim, até que um conselheiro bíblico a ajudou a confessar seus pecados e receber o perdão de Deus em Cristo.
Beth, também cristã, se casou com um homem incrédulo e por isso também violou a Lei de Deus. Mas ela o fez sem saber, por ignorância acerca da Palavra de Deus. Ela não se sentiu culpada. Somente após seu conselheiro bíblico a ensinar sobre a Palavra de Deus que ela se sentiu culpada. Ela também se arrependeu e encontrou o perdão de Deus em Cristo.
Embora o desejo pecaminoso de Allison e a ignorância de Beth sejam ambos pecados e tenham resultado em verdadeira culpa diante de Deus, nós ministramos a elas de formas diferentes.
Distinção #2 – Culpa objetiva e culpa subjetiva
Também devemos distinguir entre culpa objetiva diante de Deus e culpa subjetiva. Culpa objetiva envolve nossas ações de violar a Lei de Deus. Sempre que agimos (ou pensamos, desejamos, falamos, respondemos, etc.) contra a vontade de Deus, somos culpados diante de Deus. Sempre que fazemos o que Deus proíbe (pecados de comissão, 1 João 3.4) ou falhamos em fazer o que Deus requer (pecados de omissão, Tiago 4.17), somos culpados diante de Deus.
A culpa subjetiva envolve nossos sentimentos subjetivos de culpa que resultam da conclusão de que desobedecemos a Deus, quer tenhamos desobedecido ou não. É uma função da nossa consciência—um senso interno de culpa. Uma consciência saudável é instruída biblicamente; ela se encaixa com a Palavra de Deus. Nós nos sentimos culpados de forma correta quando violamos a Palavra de Deus. Nesse sentido, sentimentos de culpa são nossos amigos. Eles nos avisam que nosso comportamento precisa de uma inspeção profunda para determinar em que somos culpados.
Resumindo, casar-se com um incrédulo resulta em culpa—culpa objetiva contra Deus—mesmo que alguém sinta essa culpa subjetiva (como Allison) ou não (como Beth, ao menos no início).
Culpa falsa?
Terapeutas seculares que negam a lei de Deus, no entanto, descartam completamente a noção de culpa. Para eles, toda culpa é uma “culpa falsa”. Culpa objetiva não existe, pois não há um Deus que impõem qualquer lei sobre nós. Sentimentos de culpa subjetiva são transtornos problemáticos que devem ser removidos terapeuticamente. Porém, como conselheiros bíblicos, nós devemos rejeitar qualquer abordagem que negue a realidade da culpa. Verdadeira culpa nunca é falsa.
Mas há uma outra situação mais comum que alguns cristãos denominam como “culpa falsa”.
Considere Carla, outra mulher cristã, que casou com um homem cristão chamado Thomas. Ambos amam a Jesus, o seguem, e conhecem os versículos citados acima. Ainda assim, Carla sente culpa. Por que? Porque Carla é branca, Thomas é negro, e os avós dela a ensinaram (erroneamente) que Deus se opõem a casamentos inter-raciais. Ela entrou no casamento com uma consciência fraca e vagos sentimentos de culpa. Agora ela se pergunta se pecou ao se casar com um homem afro-americano.
Neste ponto, alguns cristãos podem rotular o sentimento de culpa de Carla como uma “falsa culpa” e dizer a ela, “Carla, pare de se sentir culpada. Você não fez nada de errado. Sua escolha de casamento foi correta de acordo com a Bíblia. O que você está sentindo é uma culpa falsa”.
Há, no entanto, dois problemas em chamar a luta de Carla de “falsa culpa”. Primeiro, a palavra “falsa” pode transmitir a Carla que nós estamos minimizando os sentimentos dela e negando suas lutas internas. A última impressão que queremos passar para aqueles que estamos aconselhando é a destituição dos seus sentimentos, por mais confusos que esses sentimentos sejam (e os julgamentos morais que os sustentam).
Em segundo lugar, chamar de “falsa culpa” perde o componente da culpa objetiva que está presente. Diferentemente de Allison e Beth, Carla não desobedeceu ao padrão de Deus sobre com quem um cristão pode se casar. A Bíblia não proíbe em nenhum lugar o casamento inter-racial.
Em que sentido, então, Carla realmente é culpada?
Distinção #3 – Culpa clara e culpa confusa
Embora a Bíblia não use frases como “culpa clara” e “culpa confusa”, esses termos podem nos ajudar a capturar distinções que a Bíblia faz, e pode nos ajudar a enxergar e aconselhar mais sabiamente Allison, Beth e Carla.
Culpa clara vem quando violamos a lei de Deus na Bíblia, tanto intencionalmente (Allison) quanto sem intenção (Beth), conforme Distinção #1 acima. E, se nossa consciência estiver funcionando biblicamente, nós iremos experimentar culpa subjetiva, conforme Distinção #2.
Por outro lado, a culpa confusa vem quando permitimos que outro padrão diferente da lei de Deus governe nossa consciência. Esse padrão pode ser uma passagem bíblica mal interpretada ou mal aplicada (por exemplo, leis levíticas que foram cumpridas em Cristo) ou “leis” humanas (por exemplo, proibir casamento inter-racial). Quando violamos nossa própria lei, somos objetivamente culpados diante de Deus porque nós permitimos que nossa consciência fosse submetida a um padrão além da lei de Deus e porque violamos, de forma egoísta, o que achamos que agradaria a Deus. (Veja Romanos 14 e 1 Coríntios 8–10, onde Paulo descreve cristãos verdadeiros com consciências fracas—homens e mulheres cujas consciências eram governadas por leis que não eram a lei de Deus).
As ações conjugais de Carla violaram sua consciência. Ela fez (erroneamente) o que acreditava ser errado. Quando nós violamos essas pseudo-leis, nós não somente iremos nos sentir culpados como devemos nos sentir culpados. Paulo nos diz que “nenhuma coisa é de si mesma impura, salvo para aquele que assim a considera; para esse é impura” e que “tudo o que não provém de fé é pecado” (Romanos 14.14, 23). Carla não buscou agradar a Deus, mas erroneamente fez algo que acreditava ser contrário a vontade de Deus. A mudança significará colocar-se debaixo da lei de Deus encontrada nas Escrituras, não em sua própria lei.
Considere outro exemplo de culpa confusa: se o marido de Allison (ou Beth ou Carla) a abandonar e ela se sentir responsável por essa decisão, então Allison provavelmente irá enfrentar uma forma diferente de culpa confusa. Essa culpa confusa vem de se colocar sob uma lei que não é a lei de Deus (por exemplo, “eu preciso manter meu marido fiel; eu preciso fazer com que ele me ame”). A lei de Deus requer que ela continue fiel aos seus compromissos conjugais e ame o seu marido, mas ela não é responsável diante de Deus por salvar seu casamento sozinha (Romanos 12.18).
Felizmente, se a nossa culpa e os sentimentos de culpa são intencionais ou não intencionais, se são culpas claras ou confusas, o único remédio permanece: a cruz de Jesus Cristo, o Salvador que “é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1.9).
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