Nem toda experiência com aconselhamento bíblico é positiva. Não me refiro a situações em que a pessoa esteja fugindo de Deus ou se apegando ao pecado. Aconselhamento não será bem recebido por um coração duro. Ao invés dessas situações, me refiro a experiências nas quais pessoas buscaram humildemente aconselhamento bíblico e, infelizmente, saíram mais machucadas ainda.
Como conselheiros, devemos admitir que, às vezes, pessoas se deparam com aplicações ruins do aconselhamento bíblico. Por vezes, conselheiros falham em encarnar Cristo ao abordar um irmão ou irmã caído, quebrantado ou deprimido. Infelizmente, como conselheiros bíblicos, nem sempre expressamos amor atencioso ou compaixão envolvente de maneira tão fiel quanto pregamos.
Presumo que não sou a única a ouvir histórias de pessoas machucadas ao se envolverem com um conselheiro bíblico. Você, assim como eu, pode ter sido atentamente interrogado sobre sua abordagem de aconselhamento por alguém que ainda carrega feridas e vergonha obtidas durante uma experiência de aconselhamento dolorosa em suas igrejas. O que fazemos ao encontrar irmãos e irmãs cujo envolvimento anterior com aconselhamento bíblico foi sofrível é extremamente importante. Nossa reação pode confirmar suas preocupações, feri-los ainda mais, ou lhes dar esperança. Eu oro para que este artigo nos direcione a essa última opção. As dicas seguintes sobre o que fazer e o que não fazer devem ser revisadas regularmente ao encontramos aqueles que foram feridos pelo aconselhamento bíblico.
O que fazer
Ouvir
Como conselheiros, isso deveria ser nosso padrão, mas é algo digno de ser enfatizado aqui. Certifique-se de que está sendo intencional em ouvir a história deles. Dê bastante tempo e espaço para deixá-los desabafar. Permita que compartilhem a experiência e se envolva ativamente em ouvi-los. Primordialmente, suas palavras devem ser perguntas que os encorajem a compartilhar mais. O ouvir irá incentivá-los a restaurar a confiança que foi quebrada em suas experiências anteriores. O primeiro passo para amar alguém ferido pelo aconselhamento é fazer com que eles saibam que a história deles é importante para você, e que você quer ouvi-la por inteiro. Tiago 1.19 é um guia infalível para isso.
Ter empatia
À medida que você ouve, busque identificar e entender o peso emocional da experiência deles. Entre no mundo deles ao buscar compreender a realidade da dor deles. Carregue o fardo com eles no mesmo espírito de Gálatas 6.2. Empatia irá ajudá-los a responder apropriadamente. Isso vai te ajudar a oferecer encorajamento, conforto e suporte de uma maneira que valide o fato de que aquele sofrimento, luto e dor são respostas normais ao ser ferido.
Fazer autorreflexão
Nem tudo que você ouvir sobre a experiência dolorosa deles será exclusivamente por causa dos conselhos ou do conselheiro. Eles trazem seus próprios problemas para a mesa também. Se Deus quiser, haverá um tempo e lugar para trabalhar essas questões com eles. Esse não é o momento. É crucial que conselheiros bíblicos examinem a si mesmos ao ouvir histórias de feridas por aconselhamento. Como ouvir essa história impacta você? Quais sentimentos e emoções surgem em você à medida em que escuta? Humildemente reflita sobre a sua forma de cuidar de pessoas. Há algo na história dessa pessoa que poderia ser verdadeiro na sua forma de lidar? Quais mudanças necessárias estão sendo reveladas em sua própria abordagem de cuidar de uma alma?
O que não fazer
Fofocar
É incrivelmente fácil escorregar em fofoca quando alguém compartilha as feridas que encontrou em um aconselhamento bíblico. Tentando mostrar empatia, é possível surgir o desejo de confirmar o que você também pode ter ouvido ou experimentado de um conselheiro ou ministro. Talvez você até tenha tido envolvimento com aquele conselheiro bíblico específico, igreja, ou ministério, e pode adicionar “um bocado apetitoso” para confirmar a avaliação do aconselhado. Isso não ajuda em nada, não traz cura e apenas reforça a falta de confiança naqueles que aconselham biblicamente. Não faça isso.
Defender
Ao ouvir a história de quem foi ferido, você pode sentir a necessidade de se defender como conselheiro bíblico. Evite a tentação de levar o que está ouvindo para o lado pessoal. Mesmo para coisas relacionadas ao ministério ou organização na qual você serve ou recebeu seu treinamento, uma resposta defensiva não é humilde. Conselheiros bíblicos não são pessoas perfeitas. Estamos em um processo assim como nossos aconselhados. Assumir uma postura defensiva pode ser indicação de que precisamos trabalhar nossos corações. Ouvir a dor de uma pessoa deveria instigar em nós compreensão, não defesas. Responder de outra maneira seria responder como o tolo (Provérbios 18.2).
Desdenhar
Você pode não concordar com tudo que uma pessoa está compartilhando. Você pode ver as falhas na maneira que eles avaliaram a situação. Pode haver exageros gritantes. Evite desdenhar. Desdenhar a dor deles apenas irá confirmar a experiência que tiveram. Um conselheiro sábio busca discernir o momento apropriado para se referir a essas coisas. Sabedoria inclui ser capaz de ouvir raciocínios emotivos e às vezes irracionais por um tempo, a fim de cuidadosamente abordar o coração da pessoa mais tarde. Não desdenhe ou desvalorize a dor deles para pular para aquilo que você avalia como questões de maior importância.
Conclusão
Precisamos abordar amorosamente pessoas que foram machucadas pelo aconselhamento bíblico. Se não o fizermos, estaremos apenas afastando os que sofrem das comunidades que Deus providenciou justamente para cuidar deles. Nós temos a responsabilidade de nos importarmos e cuidarmos com compaixão daqueles que foram feridos, ainda mais quando foram feridos por um de nós. Que imitemos a maneira de nosso maravilhoso Conselheiro, que perto está dos que têm coração quebrantado e espírito contrito (Salmo 34.18).
Pergunta para reflexão
O que mais você acrescentaria à lista do que fazer ou não fazer ao responder a alguém que foi machucado anteriormente por um conselheiro bíblico?
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Este post, de autoria de Beverly Moore, foi originalmente publicado no blog da Biblical Counseling Coalition. Traduzido por Natália Rios e revisado por Lucas Sabatier. Republicado mediante autorização.
*Os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos aqui publicados são de inteira responsabilidade dos autores originais, não refletindo, necessariamente, a opinião da direção e membros da ABCB em sua totalidade.
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