A Bíblia nos diz que Deus criou o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias (Eclesiastes 7.29). Tudo que Deus criou era bom e estava em perfeita harmonia, até que Adão e Eva decidiram que queriam ter o conhecimento do mal. O bem eles já conheciam. Toda a criação de Deus funcionava da maneira que o Criador planejou, mas eles acreditaram que o conhecimento do mal os traria alguma vantagem. Desde então, o sofrimento entrou no mundo e passou a fazer parte de nossas vidas. Jesus foi bem claro ao dizer que no mundo teríamos aflições. Ninguém escapa dessa realidade. Mas é ele também que nos aponta a única fonte segura de esperança, seja qual for nosso sofrimento: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16.33).
Em seu livro Depressão e Transtorno Bipolar, o médico e conselheiro bíblico Dr. Charles Hodges aponta a triste realidade do grande número de pessoas diagnosticas com depressão em todo o mundo. Ele nos alerta que cerca de 90% das pessoas que recebem esse diagnóstico estão apenas sofrendo normalmente por perdas comuns a vida humana. Elas não estão doentes, fato que explica o porquê do resultado de outra pesquisa feita sobre o uso de antidepressivos. Essa pesquisa revelou que em torno de 87% das pessoas que tomam antidepressivos sentem alívios emocionais no início do tratamento (isso perde o efeito com o passar do tempo) pela esperança que elas depositam na medicação. A medicina ainda não conhece muito bem como a depressão age em nosso cérebro, por isso os medicamentos têm apenas a função de minimizar sintomas, não tratar ou curar uma doença. Quando a pessoa começa a tomar o remédio, ela tende a acreditar que achou a solução para seu problema. Com o passar do tempo, o sofrimento em sua vida continua existindo e a esperança no medicamento para de fazer efeito.
Então, se quase 90% das pessoas que estão sofrendo com perdas em suas vidas encontram alívio na esperança que têm em um remédio, será que não conseguiríamos dar essa esperança com algo mais confiável, sólido e duradouro? Creio que sim.
O profeta Jeremias foi um homem que passou por muito sofrimento. Tudo que ele acreditava e vivia era o contrário da maioria das pessoas ao seu redor. Além disso, passou por sofrimento físico, rejeição e solidão. No livro bíblico de Lamentações, lemos o relato de seu sofrimento. Mas ele nos mostra de onde conseguiu tirar forças para suportar tudo que passou. Jeremias escreveu:
“Todavia, lembro-me também do que pode dar-me esperança: Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a tua fidelidade! Digo a mim mesmo: A minha porção é o Senhor; portanto, nele porei a minha esperança. O Senhor é bom para com aqueles cuja esperança está nele, para com aqueles que o buscam; é bom esperar tranquilo pela salvação do Senhor.” (Lamentações 3.21-26) Assim como Jeremias, em meio aos nossos sofrimentos ou ajudando pessoas que estão sofrendo, o que precisamos trazer à mente é que existe um Deus soberano, bom, misericordioso e que nos oferece graça nos momentos difíceis. Jesus disse:
“Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mateus 11.28-30) A Bíblia é a única fonte de esperança real e confiável, porque ela é a Palavra de Deus. Muitas vezes, quando estamos sofrendo, buscamos ajuda de pessoas até bem-intencionadas, mas que nos dizem coisas para nos animar que na verdade Deus nunca nos prometeu. Eu e meu marido não podemos gerar filhos. Até descobrirmos isso, passamos por um longo processo de visitas a médicos, exames e, por fim, veio a notícia que aumentou nossa tristeza. Foi um período de muito sofrimento em nossas vidas, mas que foi superado pela graça de Deus. Aprendi que a graça de Deus é sempre suficiente. Eu não preciso ter filhos. Eu queria. Mas precisar, eu só preciso da graça de Deus. Essa graça completa meu coração hoje. Mas durante o processo todo, muitas pessoas me falavam para eu ter paciência porque Deus me daria filhos. Essa expectativa só aumentava a minha dor a cada mês que o filho não vinha. Até que, certa vez, um conselheiro bíblico me disse algo que começou a mudar meu coração. Ele me disse a verdade. Deus não promete dar filhos a todo mundo, assim como Ele não promete refazer casamentos, curar todas as doenças e dar prosperidade financeira. Ele faz sim tudo isso, mas não promete para ninguém. Nossas frustrações nesse mundo são exatamente proporcionais às nossas expectativas. Expectativas erradas vão sempre gerar frustração e tristeza. Deus não prometeu acabar com o sofrimento do ser humano nesse mundo, mas Ele prometeu que sempre estaria conosco nos fortalecendo durante o sofrimento. Ele também prometeu que um dia aqueles que creem em seu filho Jesus Cristo vão habitar com Ele em outro lugar, aonde não haverá nenhuma tristeza. Essa é nossa esperança real. Um dia tudo isso vai acabar e as aflições que passamos hoje não podem nem ser comparadas com tudo de bom que nos aguarda quando esse tempo chegar. Nisso deve estar nosso coração.
“Ouvi uma forte voz que vinha do trono e dizia: ‘Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou.’” (Apocalipse 21.3,4) Charles D. Hodges, Good Mood Bad Mood: Help and Hope for Depression and Bipolar Disorder (Sheperd Press, 2012), páginas 36 e 49. Livro também publicado em português sob o título Depressão e Transtorno Bipolar, pela editora Peregrino.
Larissa Ferraro é administradora de empresas e mestranda em Aconselhamento Bíblico pelo Faith Bible Seminary (Lafayette, IN, EUA). Hoje serve como conselheira bíblica e professora na Igreja Bíblica Batista do Planalto em Fortaleza–CE. É casada há 15 anos com Júnior Palácio.
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