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A beleza das nossas emoções

Quando se trata de emoções, parecemos inclinados a extremos, mesmo no mundo cristão. Alguns de nós agem como se as emoções fossem resultado da Queda, escondendo-as ou ignorando-as. Outros de nós agem como se as emoções reinassem, permitindo que elas nos governem.

Desvalorizando as emoções em vez de ver as emoções como ideia de Deus

Alguns de nós, conselheiros bíblicos, parecem ver as emoções como não dignas de serem consideradas parte da imagem de Deus. Aceitamos que Deus nos criou com uma alma para nos relacionar, uma mente para pensar e uma vontade para escolher. Mas agimos como se as emoções não fossem ideia de Deus.

Vemos as emoções mais como uma maldição do que como uma bênção. “Mais mal do que bem.” “Suprima-as.” “Ignore-as.” “Não as tenha.”

Alguns não apenas desvalorizam as emoções; eles as rebaixam. Frequentemente ouvimos: “não confie em suas emoções”. Isso é compartilhado como uma declaração geral, implicando que, de alguma forma, as emoções são “mais caídas” do que nossos desejos, crenças e motivações.

Seria mais biblicamente correto dizer: “não confie em quaisquer desejos, crenças, motivações ou emoções que não estão sendo entregues ao controle do Espírito e avaliados através do padrão da Palavra de Deus”.

O original e belo design emocional de Deus para nós

O que a Bíblia ensina sobre nossas emoções? Que modelo de emocionalidade cristã encontramos na Palavra de Deus? Se quisermos viver vidas piedosas—vidas semelhantes à de Cristo—então precisamos da perspectiva de Deus sobre as emoções.

E se vamos aconselhar biblicamente, então precisamos de uma teologia bíblica e prática das emoções. (Para um exame mais completo do ensino da Bíblia sobre as emoções, consulte: What Does the Bible Teach About Our Emotions? ).<1>

Esquecemos que, quando Deus parou para refletir sobre os portadores de Sua imagem, Ele declarou que eles—emoções incluídas—eram “muito bons”. As emoções foram ideia de Deus. Deus nos criou a Sua imagem, incluindo Sua imagem emocional. Como John Piper observa:

A vida emocional de Deus é infinitamente complexa, além de nossa capacidade de compreender totalmente.<2>

Nossa emocionalidade é projetada por Deus e como a de Deus. Nossas emoções foram criadas muito boas.

Emoções: formadas de modo assombrosamente maravilhoso

As emoções são dadas por Deus: Adão as tinha antes da queda. Cristo as tem. Em si, elas não são pecaminosas. As emoções são benéficas e, até mesmo, lindas.

O salmista entendeu isso. No Salmo 139—a passagem clássica que descreve o máximo cuidado de Deus em nos criar—a emocionalidade é o único aspecto de nossa personalidade interior especificamente referenciado.

Pois tu formaste o meu interior tu me teceste no seio de minha mãe (Salmos 139.13).

“O meu interior” é, literalmente, “entranhas”. O Salmo 73.21 usa a mesma palavra para comunicar entristecido e amargurado. E em Provérbios 23.16, as entranhas são o lugar de regozijo e alegria.

O especialista em língua hebraica Hans Wolff explica que a língua semítica usa termos para entranhas, rins, estômago, intestinos e útero para descrever os estados de sentimento.<3> Quando literalmente experimentamos e sentimos uma emoção em nosso ser físico, também sentimos uma emoção em nosso ser interior. É por isso que dizemos coisas como: “Estou com frio na barriga”.

Deus criou seu ser mais íntimo—suas entranhas, suas emoções. Suas emoções são feitas maravilhosamente e com temor—por Deus. Na verdade, suas emoções são o único elemento que Deus destaca como tendo sido feitas de modo assombrosamente maravilhoso.

Por que sentimos o que sentimos? Nossas emoções têm propósito

Por que nosso Pai celestial nos criou com emoções? Para que propósito e função Deus projetou nossas emoções? A raiz da palavra emoção é motere, do verbo latino “mover”, mais o prefixo “e” que significa “mover-se”. Isso sugere que a tendência para agir está implícita em todas as emoções. Todas as emoções são, em essência, inclinações para agir e reagir. Isso significa que Deus criou nossas emoções para nos colocar em movimento.

As emoções representam uma resposta interna que motiva a ação externa—as emoções acionam a mente para acelerar. Para entender isso biblicamente, considere 1 Pedro 5.7–8:

Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar.

Frequentemente deixamos de relacionar esses dois versículos, embora eles sejam consecutivos nas Escrituras. A ansiedade, como todas as emoções, é uma emoção que nos motiva a agir. Nossas emoções e nossa mente percebem algo que percebemos ser perigoso—uma ameaça. Podemos responder a essa situação provocadora de ansiedade com temor a homens e autoproteção—essas seriam respostas emocionais caídas.

Ou podemos reagir a essa situação provocadora de ansiedade lançando nossa ansiedade sobre Ele e ficando alerta e vigilante. Poderíamos descrever o lado da criação da ansiedade como vigilância—a habilidade de captar as pistas em nosso mundo e responder de uma maneira dependente de Deus e protegendo os outros.

Portanto, não temos que ver as emoções, incluindo ansiedade, apenas como pecaminosas. Podemos vê-las como cheias de propósito e belas. Poderíamos pegar o que Paulo disse em Efésios 4 sobre a ira e parafrasear de 1 Pedro 5.7–8 com ansiedade:

Esteja ansioso, mas não peque. Em vez disso, quando seus sensores emocionais detectarem uma ameaça, lance sua ansiedade sobre o Senhor. Use sua ansiedade para alertar a si mesmo para se manter alerta e vigilante. Não seja como Adão no jardim, que saiu do serviço de sentinela quando a serpente o tentou e Eva. Em vez disso, seja como Cristo, que sempre esteve em serviço de sentinela para proteger seus discípulos contra os ataques do Maligno.

Em vez de ver as emoções apenas como más ou decaídas, precisamos entender que Deus criou as emoções para desempenhar um papel crucial que nos leva a fazer uma verificação dupla, a olhar para fora e para dentro. As emoções são nossa “sentinela interna” que nos conecta ao nosso mundo interno e externo.

Agora podemos sugerir definições operacionais de emoções e seu propósito dado por Deus:

  1. As emoções são nossa capacidade dada por Deus para conectar nosso mundo interno e externo, experimentando nosso mundo e respondendo a essas experiências.

  2. Nossa capacidade emocional inclui a habilidade de vivenciar e responder internamente a uma gama completa de sentimentos internos positivos (agradáveis) e negativos (dolorosos).

Um modelo bíblico para compreender nossas respostas emocionais

Deus nos projetou para que nossas emoções se submetam e respondam às nossas crenças e convicções.

  1. O que acreditamos (Romanos 12.1–2) (Direção Racional)

  2. Sobre Deus e a vida (Salmos 42.1–2) (Afeto Relacional)

  3. Fornece a direção que escolhemos seguir (Josué 24.15) (Motivação Volicional), e

  4. Direciona nossa resposta experiencial (Efésios 4.17–19) (Reação Emocional) a nosso mundo.

  5. O que acreditamos—sobre Deus e a vida—fornece a direção que escolhemos seguir—e direciona nossa resposta experiencial/emocional ao nosso mundo.

Vamos pensar novamente sobre como isso se desenrola em 1 Pedro 5.7–8. O contexto de 1 Pedro é uma resposta cristã ao sofrimento e perseguição. Observe a chave de como respondemos ao sofrimento—está na frase “porque ele tem cuidado de vós”.

  1. Nossa crença em Deus (que Ele se importa conosco) é o que motiva nossa resposta piedosa (lançar nossas preocupações sobre Deus e resistir vigilantemente ao diabo) aos sentimentos de ansiedade.

  2. As crenças piedosas (direção racional) levam a afeições piedosas (afeições espirituais), que por sua vez levam à motivação e ações piedosas (motivação volitiva) e, por fim, resultam em um tratamento cristão de nossas emoções (reações emocionais).

As emoções não devem ser desvalorizadas, mas são de grande valor. As emoções não devem ser rebaixadas, mas, em vez disso, são lindos aspectos centrais da imagem de Deus projetados por Deus em nós. Os conselheiros bíblicos devem valorizar o papel designado por Deus que as emoções desempenham em nossas vidas e relacionamentos cristãos.

Questões para reflexão

  1. Como conselheiros bíblicos, desvalorizamos e rebaixamos as emoções, ou vemos as emoções como sendo de grande valor porque são belos aspectos da imagem de Deus projetados por Deus?

  2. Como isso afeta o nosso aconselhamento bíblico quando percebemos que as emoções foram ideia de Deus, e que Deus declara especificamente que nossas emoções são feitas maravilhosamente e com temor?

  3. Em nosso aconselhamento bíblico, quão bem ou mal estamos usando uma teologia bíblica prática de nossa vida interior? O que acreditamos—sobre Deus e a vida—fornece a direção que escolhemos seguir—e direciona nossa resposta experiencial/emocional ao nosso mundo.

___________

Este post, de autoria de Bob Kellemen, foi originalmente publicado no blog da Biblical Counseling Coalition. Traduzido por Gustavo Santos e revisado por Lucas Sabatier. Republicado mediante autorização.

*Os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos aqui publicados são de inteira responsabilidade dos autores originais, não refletindo, necessariamente, a opinião da direção e membros da ABCB em sua totalidade.

<1> Robert Kellemen, What Does the Bible Teach About Our Emotions? Learning the ABCs of Emotional Intelligence? Acessado em 15 de Junho de 2020 em http://bit.ly/EmotionsABCs.

<2> John Piper, The Pleasures of God: Meditations on God’s Delight in Being God, (Colorado Springs: Multnomah Books, 2000), 72.

<3> Hans Wolff, Anthropology of the Old Testament (SCM Press, 2012).

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