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Chorar com os que Choram? — Conectando-se com o Aconselhado

Um dos meus professores do seminário costumava dizer que “relacionamentos não são eficientes”. Confesso que por algum tempo não entendi qual era o significado dessa frase. No entanto, na medida em que fui me envolvendo mais na vida ministerial, especialmente no mundo do aconselhamento bíblico, vim a compreender o que ele queria dizer. Relacionamentos humanos são cheios de problemas. Basta perguntar genuinamente a alguém “como andam as coisas?” que os problemas imediatamente começam a se revelar. As pessoas trazem consigo suas lutas e dores. É inevitável. Mas o que incomoda mais é que esses problemas tendem a atrasar a minha agenda, consumir meus recursos, interromper o dia que eu havia planejado e, às vezes, até mesmo a minha noite de sono. Contudo, em meio a uma cultura que prega o “ema, ema, ema, cada um com seu problema”, esse é exatamente o tipo de ministério para o qual Deus nos chamou. Ele quer que nós nos alegremos com os que se alegram e que choremos com os que choram (Romanos 12.15). Um dos elementos essenciais do aconselhamento bíblico é a construção de uma relação de amor entre conselheiro e aconselhado. Isso significa que um dos objetivos iniciais do conselheiro é desenvolver um relacionamento significativo com o aconselhado, criando assim um ambiente mais propício para a ministração da Palavra de Deus em sua vida. E esse relacionamento significativo é construído somente na medida em que o aconselhado percebe que seu conselheiro se importa genuinamente com suas lutas e dores. A relação deixa de ser somente de conselheiro para aconselhado, mas de pecador carente da graça de Deus para pecador carente de graça de Deus.

O EXEMPLO DA ENCARNAÇÃO Muitos tem chamado isso de ministério de encarnação, pois segue o exemplo de Cristo ao se fazer um de nós. Cristo, “subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Filipenses 2.6–8). Ele habitou entre nós (João 1.14). Ele sentiu a nossa dor. Ele lutou as nossas lutas. “Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo. Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (Hebreus 2.17–18). O ministério de encarnação é, portanto, a busca por imitar a atitude amorosa de Cristo em nossos relacionamentos com os aconselhados. Relacionar-se com o aconselhado para ministrar a Palavra de Deus em sua vida vai além de simplesmente descobrir quais são os hobbies em comum ou saber o nome de seus filhos e cachorro. Relacionar-se com o aconselhado em amor é seguir o exemplo de Cristo, abrindo mão de prioridades pessoais—e até mesmo da própria vida (1 Tessalonicenses 2.8)—, passando a enxergar o problema do outro como seu próprio.

A VIDA EM COMUNIDADE—PASSOS PRÁTICOS Quando vivemos a vida em conjunto, como membros do mesmo corpo, compartilhando choros e alegrias, já não conseguimos mais deixar que os problemas fiquem esquecidos na sala de atendimento. Se compartilhamos nossas vidas, os problemas do meu irmão passam a ser meus problemas. Quando um membro está machucado, o corpo todo sofre. Mas o que posso fazer de concreto para que isso se torne realidade? O que fazer para me envolver dessa maneira com meu aconselhado? Gostaria de sugerir alguns passos:

  1. Seja sensível às lutas do aconselhado e tente entender como seria se estivesse em seu lugar;

  2. Comprometa-se a orar regularmente pelo aconselhado;

  3. Busque ser seu amigo espiritual, demonstrando disponibilidade, levando seus problemas a sério, enfatizando a suficiência da graça de Deus para sua vida e para a vida dele, e encorajando-o a tomar passos práticos de crescimento;

  4. Seja sempre genuíno na explicação de seu sistema de valores bíblicos;

  5. Caminhe com ele em meio ao sofrimento de modo compassivo, reconhecendo o tamanho de sua dor e ensinando a reação bíblica apropriada ao sofrimento;

  6. Exorte-o em amor em tempos de pecado, chamando-o ao arrependimento e confissão;

  7. Encoraje-o sempre ao crescimento e à busca de transformação por meio do evangelho. Ao fazer todas essas coisas, lembre-se que o conselheiro não é o salvador de quem o aconselhado precisa. Cristo é quem o aconselhado mais precisa—e o conselheiro também. É Cristo que dá forças tanto para o aconselhado superar lutas e dores, quanto capacitação para a ministração do conselheiro. É o evangelho da cruz que dá esperança e alivia o peso tanto de um quanto do outro. No fim das contas, o conselheiro fiel é um mensageiro fiel e um discípulo fiel, que vive a mensagem que prega ao abnegar-se e considerar os outros mais do que a si mesmo. O conselheiro fiel é aquele que chora com os que choram, que se alegra com os que se alegram. Para saber mais: O conteúdo desse texto é o fundamento de um dos “elementos-chaves” do aconselhamento bíblico, conteúdo pertencente ao Módulo I da Conferência de Treinamento em Aconselhamento Bíblico oferecido pela ABCB.

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